terça-feira, 10 de agosto de 2010

REARBORIZAÇÃO: DA MÁGICA À REALIDADE


O processo de rearborização de parcela(s) do verde arbóreo de acompanhamento viário é sempre carregado de conflitos. Se a rearborização é necessária, obviamente problemas estão ocorrendo ou ocorrerão, esta última, de ação preventiva, bastante rara de se observar, pelo menos na América Latina.

Por diversos fatores, a arborização de acompanhamento viário foi desconsiderada na imensa maioria de nossas áreas urbanas.
Diversas ações bem intencionadas a respeito do plantio de árvores ao longo dos passeios públicos já foram observadas e mesmo relatadas em vários Encontros e Congressos da SBAU, encontrando-as em anais. Algumas delas mostraram-se desastrosas ao longo do tempo, principalmente em função do desconhecimento quase que total de questões mínimas que envolvem as árvores e suas relações com o ambiente urbano.

O replanejamento, ou melhor, o planejamento de uma nova arborização requer estudos detalhados e multidisciplinares: hierarquização e qualificação das vias, situação atual das larguras do leito carroçável e passeios, zoneamento urbano, heterogeneidade dos recuos, presença e qualificação da fiação, potencial urbanístico do local, entre outros.

O destaque deste artigo é exatamente para esse “entre outros”. Uma arborização não planejada geralmente traz problemas aos elementos artificiais que predominam nas cidades, fazendo com que a população, via de regra, perceba a árvore, e consequentemente a arborização, como um empecilho cotidiano. A ojeriza caminha desde a queda das folhas, flores e frutos, até o entupimento das redes de captação de águas pluviais e estragos nos passeios, passando pelos problemas de energia elétrica e telefonia. Enfim, um transtorno que o munícipe convive diariamente e neste mesmo intervalo de tempo discute com o poder público.

A mágica da rearborização como “salvadora da pátria” existe e persiste entre técnicos da área e sociedade em geral. É fácil, imaginam os planejadores e população, proceder a substituição indiscriminada e súbita das árvores cuja copa impede a livre visualização de placas comerciais, por árvores de menor porte ou mesmo arvoretas. Esquecem-se que um fio condutor as liga: são seres naturais, possuidores de ciclos complexos que se efetivam até nos oferecerem todos os seus beneficios.


Além disso, se não plantadas e conduzidas adequada e tecnicamente questões outras poderão ser observadas, tais como brotamento lateral, que as torna potencialmente uma “moita”, a persistência da queda natural das folhas, flores e frutos e alterações no passeio, desde uma possível manutenção de seu piso original até alterações fisicas frente a covas mal preparadas, entre outros.

A questão caminha então pelo seu pior lado: a arborização atual é tida com empecilho e a nova, proposta pelos planejadores e mal conduzidas pelas administrações, pouco ou nada resolveu o problema.

O diagnóstico não parece difícil: a situação de cada árvore foi tratada globalmente, esquecendo-se das peculiaridades e a sociedade pouco ou nada envolvida.


Osmar de Carvalho Bueno
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Sociologia e Doutorando em Agronomia.
Professor Assistente do Departamento de Economia e Sociologia da Faculdade de Ciências Agronômicas – UNESP/Botucatu.
Delegado da Regional Sudeste da SBAU.

Fonte: Site do SBAU - Sociedade Brasileira de Arborização Urbana. (aqui)

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