Tirado na semana passada, o retrato dos governadores Geraldo Alckmin (São Paulo), Luiz Fernando Pezão (Rio de Janeiro) e Alberto Pinto Coelho (Minas Gerais) sorridentes e de mãos dadas disfarçava a gravidade da discussão que precedera a pose.
Haviam-se reunido com o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, a fim de decidir se os paulistas poderiam usar as águas da bacia do rio Paraíba do Sul para alimentar os reservatórios do sistema Cantareira, quase exaurido.
Mineiros e fluminenses tomaram parte na mesa pois também dependem desse rio.
A conciliação de agora contrasta com o clima de meses atrás, quando Alckmin anunciou o intento de fazer obras para desviar parte do fluxo das águas. Talvez insuflados pela disputa eleitoral, os governadores divergiram publicamente.
Seja como for, o acordo foi selado. São Paulo ganhou o direito de iniciar as licitações para fazer as obras necessárias para a transposição. Os três governadores têm até o final de fevereiro de 2015 para apresentar uma proposta conjunta para o uso das águas da bacia.
Ainda que o entendimento entre as partes seja bem-vindo, as medidas acordadas não terão como mitigar a crise hídrica que atualmente assola o Estado de São Paulo. As obras só deverão ficar prontas no início de 2016.
As últimas chuvas, apesar de terem dado algum alívio aos sistemas Alto Tietê e Guarapiranga (que também abastecem a capital) não foram suficientes para estancar a sangria no Cantareira (que supre 6,5 milhões de pessoas), cujo nível continua a cair –estava em 9% na última sexta-feira, incluindo o uso de duas reservas técnicas.
No interior paulista, a situação chega a ser mais calamitosa. Cidades como Itu, Campinas e dezenas de outras sentem no cotidiano os efeitos da maior estiagem dos últimos 84 anos no Estado. Já se utilizam nesses locais expedientes que, por ora, são evitados na capital: rodízios e racionamentos.
Mais pitoresca é a medida adotada na cidade de Limeira (a 151 quilômetros da capital). A prefeitura local promove desde o mês passado campanha para que moradores fiscalizem o uso que seus vizinhos fazem do recurso hídrico.
Como seria de imaginar, delações desse tipo acabam gerando atritos. Num episódio, uma idosa admoestada por estar lavando o seu carro na rua, não titubeou em molhar aquele que a advertira.
De todo modo, o comportamento incentivado pela Prefeitura de Limeira talvez sirva como exemplo de uma mudança de costumes que aos poucos vem ocorrendo nos paulistas em relação ao uso da água.
Se tal evolução vier a perdurar no futuro, a crise hídrica terá tido pelo menos o mérito de evidenciar o fato cristalino de que a água é um recurso finito. Cabe ao governo, mas também à população, cuidar para que não acabe.
Fonte: Folha (aqui)
Imagem: Represa do Salto do Lobo que está sendo a reserva estratégica de Limeira (foto minha)
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