Em uma sociedade conectada fortemente à rede mundial de computadores, em meio à chamada era da informação, é cabível considerar que a cidadania está também ligada à inclusão digital? No Brasil, com mais de um terço da população analfabeta ou analfabeta funcional é coerente considerarmos ruim que apenas um terço tenha conexão à internet? A exclusão digital está apenas refletindo nossa desigualdade social ou ampliando-a?
A inclusão digital passa pela universalização do acesso à Internet, mas não se restringe a isso. Cabe falarmos também da necessidade de domínio da linguagem para utilização com autonomia. Muitas pessoas acreditam que o uso do computador limita-se à qualificação da mão-de-obra, mas essa é uma visão que pode aprofundar nossa tecnodependência. O uso limitado da tecnologia, restrito à profissionalização, abandona a dimensão da cidadania e pode fortalecer a injustiça social também com a existência de info-pobres e info-ricos.
Sim. A tecnologia da informação pode acelerar o distanciamento entre segmentos sociais com a distribuição injusta da riqueza produzida na era da informação. Nesse sentido, a inclusão digital precisa associar-se à inclusão autônoma dos grupos sociais empobrecidos. É preciso que o ato de disseminar tecnologias da informação esteja associado à ampliação da cidadania. Por exemplo, efetivando o direito à comunicação com a produção de conteúdos próprios e não apenas incorporação de padrões e formas de pensar produzidos por outros grupos sociais.
A interação possibilitada pelas tecnologias pode facilitar a reinvenção de modos de vida, inclusive fazendo com que grupos sociais se conectem de maneiras distintas das atuais. Sem que isso, evidentemente, fique no mundo virtual, mas que a tecnologia seja um suporte para a necessidade de construção de identidades e fortalecimento da diversidade cultural. Fala-se aqui da promoção da justiça social também possibilitando que tod@s tenham condições efetivas de acesso e uso autônomo da Internet.
Para que isso ocorra não basta a dinâmica do mercado, o Estado deve agir para que haja universalização do direito à comunicação por meio da Internet. Marina diz que “É preciso promover a expansão e universalização da oportunidade de acesso à telefonia, Internet e TV digital de alta definição a todos os brasileiros. O governo brasileiro deve assumir um papel de liderança na otimização dos recursos de infraestrutura de rede e na implementação de políticas e programas de e-gov em vários segmentos.”
Precisamos reduzir custos da conexão de banda larga que possibilita uso de ferramentas mais potentes e também desenvolver soluções inovadoras no modelo de negócios, na expansão tecnológica, na promoção do acesso e no estímulo ao exercício do direito à comunicação. Isso é urgente e não podemos esperar a inclusão econômica para a inclusão digital. Elas podem acontecer em conjunto, pois a comunicação em rede expressa uma nova forma de organização social e econômica. Fala-se, portanto, da garantia de direitos na era da informação.
As pessoas precisam ter o direito de acessar a Internet para manter uma caixa postal, conectar-se às redes sociais, utilizar serviços governamentais, efetuar compras e vendas, desfrutar de seu tempo livre, colaborar com colegas de trabalho, participar de processos de ensino-aprendizagem e exercer seu direito à liberdade de expressão. Isso incorpora o acesso à Internet na agenda da garantia de direitos. Ou será que o direito a se comunicar e acessar informações será restrito a pessoas com uma determinada condição social?
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