Durante a última década, os
brasileiros, animados pelas passagens mais baratas e pelo aumento da
renda, passaram a viajar mais de avião, até então privilégio exclusivo
de pessoas mais abastadas.
Entretanto, viajar de avião no Brasil não significa exatamente estar no paraíso. Aliás, está muito longe disso.
Para começar, o passageiro que
sempre viajou de ônibus está acostumado com coisas simples, como saber
exatamente o valor da passagem, como chegar na estação rodoviária e
saber que sua poltrona está garantida, e que o ônibus quase sempre parte
no horário correto.
O passageiro também sabe que, mesmo que tenha comprado sua passagem pela Internet, sua única tarefa é chegar na rodoviária antes do ônibus partir, e só. Sua viagem está praticamente garantida.
O passageiro também sabe que, mesmo que tenha comprado sua passagem pela Internet, sua única tarefa é chegar na rodoviária antes do ônibus partir, e só. Sua viagem está praticamente garantida.
Já
o passageiro de avião enfrenta um verdadeiro calvário. Para começar, o
valor da passagem varia absurdamente, e as regras para isso não são nada
claras. Embora alguns possam conseguir passagens ditas "promocionais"
por uma ninharia, a maioria paga muito mais caro do que os anúncios e os
noticiários apregoam.
O fato de ter uma passagem na
mão, já paga, não garante em absoluto que a viagem vai acontecer. Para
começar, na aviação, vigora um absurdo e ilógico sistema de "reservas".
Então, um executivo que tem nas mãos várias passagens, de várias
empresas, com data em aberto (valem por um ano), faz reservas em todos
os voos para o seu destino e, obviamente, embarcará em apenas um desses
voos. Claro que o tal executivo não se preocupará em cancelar as demais
reservas, e quem arca com o prejuízo das poltronas não ocupadas são as
companhias aéreas.
As companhias aéreas, claro,
adotam um mecanismo de defesa contra essa prática: aceitam mais reservas
do que lugares realmente existentes no avião, pois têm estudos
estatísticos que, teoricamente, garantem que muitas reservas não serão
honradas (o chamado "no show") e que todos os passageiros que se apresentarem terão lugar no voo.
As estatísticas nem sempre funcionam. De fato, em muitos casos o número de passageiros que se apresentam ao check-in é maior do que o número de pessoas que cabem no avião. É o famigerado "overbooking". O overbooking
é ilegal e severamente punido pelas autoridades aeronáuticas, e o
passageiro tem muitos direitos nesse caso, proporcionados tanto pelo
Código Brasileiro de Aeronáutica quanto pelo Código de Defesa do
Consumidor.
Mesmo assim, ou o passageiro não viaja ou viaja muito atrasado, o que pode significar, por exemplo, perder a chance de conseguir um bom emprego, de prestar um concurso público ou ver pela última vez um ente querido. As empresas, na verdade, preferem arcar com eventuais multas ou ações judiciais, pois o custo disso é menor do que arcar com muitas poltronas reservadas e não ocupadas.
Mesmo assim, ou o passageiro não viaja ou viaja muito atrasado, o que pode significar, por exemplo, perder a chance de conseguir um bom emprego, de prestar um concurso público ou ver pela última vez um ente querido. As empresas, na verdade, preferem arcar com eventuais multas ou ações judiciais, pois o custo disso é menor do que arcar com muitas poltronas reservadas e não ocupadas.
O passageiro novato de avião
espanta-se com a necessidade de comparecer ao aeroporto uma ou duas
horas antes do horário previsto. Terá que se se submeter ao famigerado "check-in", coisa absolutamente desconhecida dos passageiros de ônibus. E tudo pode acontecer no check-in:
filas quilométricas, passageiros com excesso de bagagem que não querem
pagar taxas extras, travando as filas, e "celebridades" e políticos
"furando" fila...
Uma vez vencido o check-in,
o passageiro já despachou sua bagagem, que supõe estar em segurança,
sob os cuidados rigorosos da companhia aérea. Todavia, a bagagem vai
cumprir uma verdadeira "via crucis" pelos tortuosos caminhos aeroportuários.
De
fato, mesmo uma boa mala raramente resiste mais de 10 viagens aéreas,
pois vira lixo depois disso. Quanto ao seu conteúdo, nem se fala. Os
passageiros experientes evitam colocar qualquer coisa mais importante,
valiosa ou frágil na bagagem de porão. Muitos empregados no manuseio de
bagagens ou cargas são terceirizados das companhias aéreas, e nem sempre
são cuidadosos ou honestos nessa tarefa. Existem verdadeiras máfias de
ladrões de bagagem em quase todos os grandes aeroportos.
Quanto
ao voo, será que está garantido? A resposta é: NÃO. Os aviões dependem
de condições meteorológicas favoráveis, infraestrutura do aeroporto e
condições de tráfego aéreo para cumprir seus horários. Eventuais
problemas de manutenção também podem atrasar ou cancelar voos.
Enquanto está no aeroporto,
aguardando o seu voo, o passageiro tem à sua disposição uma infinidade
de serviços de alimentação, lazer e compras. Mas uma surpresa
desagradável o espera: os preços são verdadeiramente absurdos, e meio Kg
de comida self-service no aeroporto pode sair mais caro que um bom rodízio de carnes nobres na melhor churrascaria da cidade.
A essa altura, o passageiro
novato pode começar a sentir uma absurda saudade dos ônibus e dos
terminais rodoviários. Mas, depois de entrar na sala de embarque e ser
bisbilhotado pelos equipamentos de raio-x, parece que seus problemas
acabaram.
É um engano. Na
hora do embarque, as empresas dão prioridade aos passageiros com
necessidades especiais, grávidas, pessoas com crianças de colo e menores
desacompanhados. É justo. Mas existem outros passageiros "especiais",
como celebridades, pseudocelebridades e políticos, que embarcam antes.
Muitos aeroportos não possuem pontes de embarque, os fingers.
Se o tempo não estiver bom, o passageiro pode ter que caminhar debaixo
da chuva e do vento até chegar à aeronave, ou enfrentar ônibus quase sem
assentos para os passageiros. Dá saudades até das piores rodoviárias.
Uma
vez no interior da aeronave, o passageiro novato novamente se espanta
ao ver o espaço físico a ele destinado. Trens de subúrbio ou ônibus
urbanos são mais espaçosos que a maioria dos aviões. O passageiro obeso
ou muito alto sente vontade de descer ali mesmo. Mas isso não
exclusividade do Brasil, no mundo inteiro é assim, ou ainda pior.
O
voos domésticos são geralmente rápidos, o que reduz o extremo
desconforto de uma poltrona que parece ter sido projetada para crianças
de 1,40 m de altura e 35 Kg de peso. Mas o passageiro de um voo
internacional sofre uma verdadeira tortura, ao voar de 6 a 16 horas em
poltronas idênticas às dos aviões domésticos. É até de se espantar que
consiga caminhar normalmente depois.
Ao desembarcar, o
passageiro deve se sentir extremamente feliz se: desembarcou no
aeroporto de destino, no horário previsto; conseguiu localizar e apanhar
sua bagagem; encontrou um táxi para levá-lo para casa ou para o hotel.
Desembarcar no destino é uma
verdadeira loteria. Condições meteorológicas desfavoráveis podem obrigar
um avião a pousar em um aeroporto de alternativa. A companhia aérea
deve providenciar transporte para o destino final e, se for o caso,
arcar com despesas de alimentação e hospedagem. Mas isso não tira o
desconforto do passageiro que voa por uma hora e passa três outras horas
dentro de um ônibus velho, fretado às pressas, para chegar ao seu
destino. Isso, sem contar atrasos provocados por passageiros que se
acham "importantes" e que insistem em ser despachados de táxi para suas
casa, ou que permanecem inabaláveis a bordo dos aviões, esperando o
tempo melhorar, atrasando todo mundo.
O
passageiro mais experiente se sente muito feliz ao avistar sua bagagem,
aparentemente intacta, na esteira do desembarque. Verificar o estado do
seu conteúdo em casa, depois já é outra história... Mas é difícil ficar
um bom tempo esperando a bagagem aparecer, se ela insiste em não
aparecer. Reclamar não adianta muito, pois o passageiro vai acabar indo
para o hotel sem roupa para trocar e sem muitos ítens igualmente
essenciais. Quando a bagagem aparecer, se aparecer, já será tarde para
quem teve que fazer compras não programadas para manter um mínimo de
conforto fora de casa.
Ao chegar ao
aeroporto de destino, uma das necessidades mais prementes do passageiro é
conseguir um transporte para sua casa ou para o hotel. Nos aeroportos
brasileiros, esqueça os meios de transporte essenciais e básicos nas
grandes cidades, o metrô e o trem urbano. Simplesmente, não existem em
nenhum aeroporto brasileiro.
Se um passageiro desembarcar do
seu ônibus no Terminal da Barra Funda, em Sâo Paulo, por exemplo, pode
optar em pegar o metrô, o trem, o ônibus ou o táxi para chegar ao seu
destino. Se desembarcar do seu voo no Aeroporto de Congonhas, o mais
movimentado do Brasil, terá que disputar um táxi a tapas, pois o trem e o
metrô estão a quilômetros de distância, e os ônibus parecem latas de
sardinha ambulantes. Esse passageiro, no entanto, pode se sentir muito
feliz ao pegar o táxi, já que em alguns aeroportos, como o do Galeão, no
Rio de Janeiro, ele corre o risco de pegar um táxi "pirata", que irá
fazer uma "escala não programada" em alguma "boca de fumo", onde será
sumariamente dilapidado dos seus bens.
Táxis nos aeroportos: problemas a vista |
- Pesquise os preços das passagens antes de comprar e, se puder, compre com mais antecedência;
- Chegue bem cedo ao aeroporto, antes do seu voo. As vítimas do overbooking são geralmente os retardatários;
- Leve somente a bagagem indispensável. Não pague altas tarifas de excesso de bagagem para levar roupas e sapatos velhos;
- Só leve consigo objetos de valor se for absolutamente necessário, e mantenha os mesmos na bagagem de mão;
- Deixe em casa objetos como canivetes, facas de churrasco, ferramentas de manicure ou cabeleireleiros, tesouras e coisas semelhantes, pois seu destino final será, certamente, o lixo;
- Utilize os serviços de proteção de bagagem como a plastificação das malas, por exemplo, pois isso dificulta o trabalhos dos ladrões de bagagem, que vão preferir alvos mais fáceis;
- Cuide muito bem da bagagem de mão dentro dos aeroportos, para evitar furtos;
- Use malas, mesmo as de mão, de cores vivas, como laranja, verde-limão ou amarelo. Aposente as malas pretas ou azuis. Será muito mais fácil visualizar uma mala colorida na esteira, e mesmo um ladrão audacioso evitará furtar uma mala de cor muito chamativa;
Malas coloridas: uma boa escolha |
- Não use roupas caras ou de grife;
- Distribua seu dinheiro, cartões e documentos em vários bolsos ou bolsas, não deixe tudo em um lugar só;
- Se puder, evite fazer refeições no aeroporto, é muito caro;
- Não discuta com pessoal do check-in sobre atrasos e cancelamentos de voos, eles não podem resolver seu problemas e nem são responsáveis por isso;
- Empresas aéreas não são culpadas por condições meteorológicas desfavoráveis;
- No desembarque, arranque todas as etiquetas de bagagem colocadas pelas empresas aéreas, pois chamam a atenção dos ladrões;
- Não utilize táxis e transportes alternativos fora dos locais apropriados;
- Se possível, peça a um amigo, parente, hotel ou agente de viagem para buscá-lo no aeroporto, pois é mais seguro;
- Não use o avião para chegar a um evento inadiável, como entrevista de emprego ou concurso público, ou voe com suficiente antecedência;
- Considere sempre meios de transporte alternativos, como os ônibus. Nem sempre viajar de avião é vantagem, mesmo pagando menos. Na Europa ou no Japão, o trem pode ser mais rápido que o avião.
Para quem gosta de assunto sobre Aeronáutica, História e Guerras, recomendo esse blog que é muito interessante.
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