terça-feira, 22 de abril de 2014

Do lixão ao paraíso

do amigo, Wagner Gonçalves

Após dez anos, a lagoa usada como ponto de descarte de lixo e entulho  transformou-se referência quando a questão é sustentabilidade. A revitalização ocorreu gradualmente por iniciativa dos moradores dos bairros que cercam a área e hoje recebe famílias para momentos de lazer e atividades desportivas. Além disso, o Parque Ecológico tornou-se um ambiente favorável à sobrevivência de flora e fauna, atraindo animais para ali viver.
João Teixeira de Oliveira, 57, mais conhecido como “Jão da Capivara” não tem esse apelido em vão. Morador do Jardim do Lago há quase 30 anos, há alguns anos é voluntário para tratar das capivaras que vivem no Parque Ecológico em Limeira. “Vem bebê” e, logo após, um assovio… Não demora muito para que as capivaras venham até ele. “Elas já conhecem a minha voz e sabem que venho para tratar”, contou Oliveira sobre sua rotina diária para alimentar os animais. Ao todo são mais de 12 capivaras que vivem no espaço, incluindo três filhotes. Os animais vivem soltos e aparecem poucas vezes à luz do dia, o que desperta o interesse de muitos que passam pelo local e param para ver a novidade. “Muitas pessoas param para tirar fotos”, contou o tratador voluntário.
As capivaras tornaram-se atração para os que por ali passam
Quando viera para o bairro, em 1984, havia poucas casas e o bairro era famoso pela lagoa no local, e por isso levou o nome de Jardim do Lago. “Mas depois das casas construídas, começaram a jogar lixo e em pouco tempo o lugar foi transformado em, praticamente, um lixão”, disse Oliveira.
A pedagoga Claudineia Aparecida Morais do Amaral foi diretora da Associação de Moradores do Jardim Aeroporto – bairro que se encontra do outro lado da lagoa – e conta que durante a formação dos bairros, a Prefeitura esvaziou as lagoas, em 1997, devido ao despejo de esgoto. “Deixou o espaço em absoluto abandono”, disse Claudineia, o que resultou em ponto de descarte de lixo, entulho, materiais tóxicos.
“Uma situação deplorável”, exclamou a pedagoga mencionando haver proliferação de roedores, infestação de parasitas, além do aspecto visual e o mau-cheiro. Em 1999, houve projetos educativos ambientais, com o plantio de árvores, no entanto as árvores não resistiam à degradação.
Em 2004, a associação discutia assuntos referentes à água, motivados pela Campanha da Fraternidade, na qual a Igreja Católica propôs uma reflexão a respeito deste tema. Claudineia conta que depois de constatado problema de degradação ambiental evidente,  a associação passou a discutir maneiras de intervir no local, que envolvia uma nascente. “O objetivo foi iniciar uma mobilização social local, para posteriormente cobrar ações do poder público”, ressaltou Claudineia.
Pensando em obter um espaço para brincadeiras e atividades com as crianças mobilizaram mutirões para a limpeza do espaço, envolvendo-as na atividade. Claudineia conta que em um sábado, 83 crianças participaram, retirando o equivalente a três caminhões de lixo. No mesmo fim de semana, no domingo, houve um campeonato de pipa. “Assim conseguimos despertar a atenção dos moradores para a recuperação tão necessária daquela área pública”, relata.
Um ponto de encontro para moradores da região, escolas e igrejas foi se tornando um parque para lazer, em que aconteciam também jogos de vôlei e futebol.
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O Parque Ecológico tornou-se local para lazer e atividades desportivas
Contudo, as melhorias limitavam-se ao trabalho voluntário dos envolvidos com os projetos. Alguns projetos, conforme Claudineia, foram propostos pelo poder público, no entanto sem muito sucesso, o que motivou uma representação no Ministério Público contra a Prefeitura, em 2006.
“Sem dúvida a lentidão do poder público foi a principal, mas a falta de conscientização ambiental dos moradores não ajudou”, acrescentou.
O processo de conscientização foi gradual, conforme aumentava o número de envolvidos nos projetos. As atividades esportivas passaram a ser destaque quando se deu início às corridas e caminhadas. Marli Santos, professora de educação física, considerada a pioneira na luta por melhorias, idealizou os projetos e passou a liderar os desportos.
“O projeto iniciou tímido, com poucas pessoas, mas foi fundamental para atrair o público para a causa”, relatou Marli. As corridas passaram a ser um pretexto para que as pessoas cuidassem do espaço, despertando a desejada conscientização ambiental. O espaço passou a ser chamado Parque Ecológico Jardim do Lago, e além desse reconhecimento, ganhou destaque em referência de preservação ambiental.
“Cuido de um paraíso e ainda sou paga para isso”, compartilha a auxiliar geral Rosemery Silva, que trabalha no local desde que a secretaria de Meio Ambiente de Limeira mobilizou uma equipe para manter o espaço, há dois anos. Mery, como é chamada, mora em um bairro na região e disse que o que antes era depósito para móveis usados, agora serve de habitat para aves e outros animais. “Um caso perdido que hoje é um pedacinho do céu”, exclama.

Fonte: Multimídia UNIMEP (aqui)

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