A lenta revolução do Papa Francisco
É arriscado fazer um balanço do pontificado de Francisco, apenas nove meses após sua eleição, como adverte o teólogo Leonardo Boff, mas quem observa o papa que o conclave foi buscar no fim do mundo chega à conclusão de que ele está mudando a Igreja. O "estilo Bergoglio" transportou para Roma as práticas do ex-arcebispo de Buenos Aires que dá atenção às pessoas, ouve, olha nos olhos e transmite alegria ao falar de um Deus.
"Misericórdia e caridade são palavras-chave que, mais do que citadas, são praticadas por este pontífice", observou em entrevista à Rádio Vaticano o cardeal d. Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, que, ao se aposentar, foi morar em uma casa modesta na Saúde, na capital.
Foi d. Cláudio quem aconselhou Jorge Mário Bergoglio, na hora em que ele foi eleito, a não se esquecer dos pobres. Francisco levou o conselho a sério, a começar pela escolha do nome, inspirado em São Francisco de Assis.
O papa que, em sua primeira entrevista à imprensa, disse que gostaria de "uma Igreja pobre para os pobres", começou dando exemplo de abnegação e pobreza. Calça surrados sapatos pretos, abriu mão de anel dourado, dispensou carro de luxo e trocou os aposentos do Palácio Apostólico por um quarto de 50 m2 da Casa Santa Marta, onde toma refeições misturado aos hóspedes, levantando-se para servir-se no bufê e sentando-se a qualquer mesa, embora tenha lugar reservado.
"Francisco se preocupa com a nossa vida cotidiana na terra como com a vida eterna e a salvação de cada um de nós", disse d. Cláudio em entrevista gravada no dia 17, quando Bergoglio fez 77 anos e convidou quatro moradores de rua para a comemoração de seu aniversário. O papa sempre dá atenção a quem se aproxima - dos peregrinos na Praça de São Pedro, onde já falou para 1,5 milhão de pessoas nesses primeiros nove meses, àqueles que lhe escrevem em busca de conforto.
Como fazia quando era arcebispo de Buenos Aires, Francisco costuma telefonar para responder a cartas de desconhecidos. Aconteceu, por exemplo, com uma mulher que, por ser mãe solteira, não estava conseguindo um padre para batizar o filho. "Se não conseguir, venha aqui (no Vaticano) e eu serei o padrinho", disse. As pessoas ficam surpresas quando o telefone toca e, do outro lado, uma voz anuncia que é o papa quem fala. O porteiro da Cúria da Companhia de Jesus achou que fosse trote, quando Francisco ligou para falar com o superior geral.
"Francisco resgata as principais intuições da Teologia da Libertação sem precisar citar o nome", diz o teólogo Leonardo Boff, um dos principais formuladores dessa corrente, que os dois últimos papas reprimiram por causa da alegada conotação marxista. "Atualmente, se um cristão não é revolucionário, não é cristão", disse o papa, lembrado pelo teólogo em uma série de citações que comprovam sua predileção por uma Igreja comprometida com a realidade.
O fato de Francisco preferir ser chamado de bispo de Roma indica que quer ser apenas o primeiro entre iguais para presidir a Igreja na caridade. "A última edição do Anuário Pontifício, que antes trazia na página inicial o nome do papa com todos os títulos, tem agora apenas uma legenda: Francisco, bispo de Roma", observa Boff.
Ao tomar posse da Basílica de São João de Latrão, a catedral da Diocese de Roma, em 7 de abril, Francisco exortou os fiéis a se entregarem à misericórdia de Deus. "Deixemo-nos envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar nas feridas do seu amor, deixando-nos amar por ele, encontrar a sua misericórdia nos sacramentos."
Misericórdia, ternura e abertura ao próximo são palavras recorrentes nos seus pronunciamentos. "Francisco tem novas palavras para velhos problemas, que nos permitem pensar em uma nova primavera da Igreja", observa Boff, para quem Bergoglio significa uma inovação como não se via há séculos.
Experiência. O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, um dos nomes mais cotados para a sucessão de Bento XVI, conforme a imprensa noticiou, também fala com entusiasmo do estilo do papa argentino. Para ele, Francisco amplia para toda a Igreja a vivência pastoral iniciada na América Latina.
"Estou feliz ao ver que, com vigor e firmeza, Francisco está ajudando a Igreja a levar adiante a sua missão e trazendo novo ânimo para a comunidade católica", disse o cardeal. Para ele, o papa está mostrando, em pouco tempo, que estava preparado para exercer o cargo. D. Odilo acredita que haverá mudanças na Igreja, "mas não em um ou dois anos, porque mudanças não ocorrem por decreto, mas pela tomada de consciência das pessoas".
A exortação apostólicas Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), publicada em 26 de novembro, indica os rumos que Francisco pretende dar à Igreja, disse o cardeal, convidando os fiéis a refletir sobre o texto. "Esse documento é um trabalho de semeadura, cujos frutos virão com o tempo", advertiu.
É arriscado fazer um balanço do pontificado de Francisco, apenas nove meses após sua eleição, como adverte o teólogo Leonardo Boff, mas quem observa o papa que o conclave foi buscar no fim do mundo chega à conclusão de que ele está mudando a Igreja. O "estilo Bergoglio" transportou para Roma as práticas do ex-arcebispo de Buenos Aires que dá atenção às pessoas, ouve, olha nos olhos e transmite alegria ao falar de um Deus.
"Misericórdia e caridade são palavras-chave que, mais do que citadas, são praticadas por este pontífice", observou em entrevista à Rádio Vaticano o cardeal d. Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo e prefeito emérito da Congregação para o Clero, que, ao se aposentar, foi morar em uma casa modesta na Saúde, na capital.
Foi d. Cláudio quem aconselhou Jorge Mário Bergoglio, na hora em que ele foi eleito, a não se esquecer dos pobres. Francisco levou o conselho a sério, a começar pela escolha do nome, inspirado em São Francisco de Assis.
O papa que, em sua primeira entrevista à imprensa, disse que gostaria de "uma Igreja pobre para os pobres", começou dando exemplo de abnegação e pobreza. Calça surrados sapatos pretos, abriu mão de anel dourado, dispensou carro de luxo e trocou os aposentos do Palácio Apostólico por um quarto de 50 m2 da Casa Santa Marta, onde toma refeições misturado aos hóspedes, levantando-se para servir-se no bufê e sentando-se a qualquer mesa, embora tenha lugar reservado.
"Francisco se preocupa com a nossa vida cotidiana na terra como com a vida eterna e a salvação de cada um de nós", disse d. Cláudio em entrevista gravada no dia 17, quando Bergoglio fez 77 anos e convidou quatro moradores de rua para a comemoração de seu aniversário. O papa sempre dá atenção a quem se aproxima - dos peregrinos na Praça de São Pedro, onde já falou para 1,5 milhão de pessoas nesses primeiros nove meses, àqueles que lhe escrevem em busca de conforto.
Como fazia quando era arcebispo de Buenos Aires, Francisco costuma telefonar para responder a cartas de desconhecidos. Aconteceu, por exemplo, com uma mulher que, por ser mãe solteira, não estava conseguindo um padre para batizar o filho. "Se não conseguir, venha aqui (no Vaticano) e eu serei o padrinho", disse. As pessoas ficam surpresas quando o telefone toca e, do outro lado, uma voz anuncia que é o papa quem fala. O porteiro da Cúria da Companhia de Jesus achou que fosse trote, quando Francisco ligou para falar com o superior geral.
"Francisco resgata as principais intuições da Teologia da Libertação sem precisar citar o nome", diz o teólogo Leonardo Boff, um dos principais formuladores dessa corrente, que os dois últimos papas reprimiram por causa da alegada conotação marxista. "Atualmente, se um cristão não é revolucionário, não é cristão", disse o papa, lembrado pelo teólogo em uma série de citações que comprovam sua predileção por uma Igreja comprometida com a realidade.
O fato de Francisco preferir ser chamado de bispo de Roma indica que quer ser apenas o primeiro entre iguais para presidir a Igreja na caridade. "A última edição do Anuário Pontifício, que antes trazia na página inicial o nome do papa com todos os títulos, tem agora apenas uma legenda: Francisco, bispo de Roma", observa Boff.
Ao tomar posse da Basílica de São João de Latrão, a catedral da Diocese de Roma, em 7 de abril, Francisco exortou os fiéis a se entregarem à misericórdia de Deus. "Deixemo-nos envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar nas feridas do seu amor, deixando-nos amar por ele, encontrar a sua misericórdia nos sacramentos."
Misericórdia, ternura e abertura ao próximo são palavras recorrentes nos seus pronunciamentos. "Francisco tem novas palavras para velhos problemas, que nos permitem pensar em uma nova primavera da Igreja", observa Boff, para quem Bergoglio significa uma inovação como não se via há séculos.
Experiência. O cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Odilo Pedro Scherer, um dos nomes mais cotados para a sucessão de Bento XVI, conforme a imprensa noticiou, também fala com entusiasmo do estilo do papa argentino. Para ele, Francisco amplia para toda a Igreja a vivência pastoral iniciada na América Latina.
"Estou feliz ao ver que, com vigor e firmeza, Francisco está ajudando a Igreja a levar adiante a sua missão e trazendo novo ânimo para a comunidade católica", disse o cardeal. Para ele, o papa está mostrando, em pouco tempo, que estava preparado para exercer o cargo. D. Odilo acredita que haverá mudanças na Igreja, "mas não em um ou dois anos, porque mudanças não ocorrem por decreto, mas pela tomada de consciência das pessoas".
A exortação apostólicas Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), publicada em 26 de novembro, indica os rumos que Francisco pretende dar à Igreja, disse o cardeal, convidando os fiéis a refletir sobre o texto. "Esse documento é um trabalho de semeadura, cujos frutos virão com o tempo", advertiu.
Fonte: Estadão (aqui)
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