Discurso – Pastoral da Juventude
Câmara Municipal de Limeira – 22/04/2009.
Boa noite senhor Presidente desta Casa, senhores vereadores, senhoras vereadoras, os jovens aqui presentes que comigo estão representando a Pastoral da Juventude de Limeira, demais cidadãos presentes e aqueles que estão nos ouvindo pelos meios de comunicação.
“Meus irmãos, se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, que adianta isso? Assim também é a FÉ: sem as obras, ela está completamente morta!” (Tiago 2, 14; 17)
Antes de qualquer coisa, quero agradecer por este espaço que foi aberto para a Pastoral da Juventude, que muitas vezes em minha fala farei a referência carinhosamente como “PJ”. Este espaço que nos é disponibilizado utilizarei em nome da juventude organizada da Diocese de Limeira abordando os seguintes temas: quem é a PJ?; O porquê da semana da Cidadania?; Quais são os nossos trabalhos?; E por último e não menos importante, quais são os nossos sonhos que os senhores muito poderão trabalhar para nos ajudar a torná-los realidade.
A Pastoral da Juventude é a ação organizada da Igreja Católica para o trabalho evangelizador da juventude. Trabalhamos com o lema “jovens evangelizando jovens”. Assim o clero de nossa Igreja nos reserva espaço para este trabalho dinâmico, desafiador, que não é nada fácil, mas que quando vemos seus frutos aparecerem, muito nos alegra e muito nos orgulha. A PJ possui mais de 35 anos de articulação no estado de São Paulo, e nesta trajetória trouxe muitas lideranças para a nossa Igreja, na forma de sacerdotes e leigos líderes; e também para a nossa sociedade, seja em cargos eletivos como, por exemplo, o vereador Ronei, nesta atual legislatura, seja nos trabalhos sociais em associações, sindicatos, organizações não governamentais entre outras instituições.
Trabalhamos a formação integral da juventude que são cinco relações a saber: eu com Deus; eu comigo mesmo; eu com os outros; eu com a sociedade; e eu na ação organizada. Portanto, trabalhamos a dimensão espiritual do jovem, mas também trabalhamos a dimensão política e social, já que conforme Bertold Brecht nos disse: “o pior analfabeto é o analfabeto político”.
Na Diocese de Limeira, que é formada por 16 municípios, estamos organizados em dezenas de grupos de base que se reúnem periodicamente, em 11 cidades e nos organizamos também numa comissão diocesana que possuem jovens escolhidos em assembleia e que trabalham organizando atividades diocesanas, regionais e nacionais, e também representa a nossa pastoral junto à organização diocesana sob coordenação de nosso bispo, Dom Vilson.
Vimos aqui hoje, como atividade prática e encerramento de um de nossos eventos conhecido como Semana da Cidadania, que é celebrada anualmente, desde 1995, entre os dias 14 e 21 de abril e cujo objetivo é trazer a questão da cidadania e a prática consciente dela por parte da juventude brasileira, e aí, meus senhores, nosso trabalho não é apenas com a juventude cristã católica, mas sim com todos os grupos da juventude na sua diversidade. Todo ano refletimos um tema, e que em 2009 foi “Juventude e Criminalização”, e cujo lema, ou seja, nosso grito foi “Juventude em marcha contra a violência”. Este tema muito tem a ver com nossa juventude, já que este segmento é o mais afetado pela violência atualmente, seja nas grandes, seja nas pequenas cidades. Assim, trabalhamos para mostrar à nossa juventude quais são seus deveres e também seus direitos, e que apenas reclamar não adianta, e sim, que temos que agir para conseguirmos conquistar nossa utopia que é a Construção da Civilização do Amor...
Sabemos que trabalhar com a juventude não é um trabalho fácil. Muitas lideranças preferem trabalhar com outros segmentos, pois o jovem, além de ser mais contestador, não aceita qualquer meia-verdade sem analisá-la e quando discorda, a expressa sem medo das consequências que isso pode gerar. Mas também por outro lado, a atual cultura que privilegia mais o parecer do que o ser e que torna relativo qualquer valor, está diminuindo a intensidade desta atuação prática do jovem. Como “caminheiros”, sabemos disso, mas também por outro lado sabemos que semeamos ao andar e que as flores que germinam são vistas pelos outros que futuramente passarão também por estes caminhos.
A nossa juventude sofre por muitos lados, onde aqui gostaríamos de destacar apenas alguns pontos:
· Violência: como acima mencionado, a população jovem é a mais afetada, principalmente se considerarmos jovens masculinos, negros, pobres e por volta dos 24 anos, que é o rosto do grupo mais afetado pela violência no Brasil. Só para exemplificarmos, a UNESCO lançou um relatório em 2002, onde demonstrava que a taxa de homicídio da juventude brasileira era de 54,5 mortes para cada 100 mil habitantes, muito maior se compararmos para o valor de 21,7 que é para o restante da população brasileira e de 6,4 que é para a população argentina no mesmo período;
· Desemprego: segundo o IBGE, em 2001, 49% dos desempregados tinham entre 15 e 24 anos de idade, que infelizmente dificulta a inserção social da juventude no mercado de trabalho e facilita o aliciamento às atividades ilícitas;
· Gravidez na adolescência: outro ponto importante que afeta a população jovem, principalmente as mulheres, já que muitas têm que largar seus estudos para assumir sua nova função. Segundo dados federais, em 2002, dos 3,2 milhões de nascidos vivos, quase 23% dessas crianças possuíam mães entre 15 e 19 anos.
Como forma de atuarmos na sociedade e na Igreja, trabalhamos com vários eventos que assumimos ao longo do ano. Contaremos um pouco para que os senhores possam conhecer um pouco melhor o nosso trabalho. A nossa diocese possui uma experiência de formação de lideranças jovens que é conhecida nacionalmente e que no ano de 2003 recebeu um prêmio como melhor experiência de formação da PJ no estado de São Paulo. Esse trabalho é conhecido como ESCOLICA – Escola de Formação de Líderes, Coordenadores e Assessores da PJ. Este projeto existe desde 2001 e está atualmente em sua sexta turma e já formou mais de 100 lideranças jovens
No aspecto local, tentamos conhecer a realidade e agir junto às nossas comunidades, como em 2007 quando houve a ocupação da área do Horto pelo Movimento dos trabalhadores Sem Terra. Naquela ocasião fomos conhecer a realidade do grupo lá presente, já que não concordávamos com a forma pela qual a mídia estava cobrindo o acontecimento. Após a reintegração de posse violenta que foi executada no dia 29 de novembro de 2007 pela polícia militar e pela prefeitura municipal, nos posicionamos contra tal truculência e lançamos manifestos públicos rechaçando tal prática, e também a forma pela qual alguns formadores de opinião estavam retratando o acontecido e trabalhamos tentando esclarecer a realidade que lá vimos para as pessoas de nosso convívio e não como era pintada por muitas autoridades de nossa cidade.
Em Limeira, vemos que muitos projetos têm sido realizados para a juventude pela atual gestão, como a Escola do Trabalho, Atividades de Lazer, Cursinhos Pré Vestibular, realização de Eventos Culturais em nosso município, bolsas de estudo, inauguração de Centros de Acesso à Internet e o esforço para a concretização do sonho que foi a inauguração do segundo Campus da UNICAMP em Limeira. Todo aumento de investimento na educação é louvável e necessário, já que é a forma maior de estabelecer a emancipação social do jovem. Mas também, por outro lado, temos que aqui expressar que essas medidas alcançam uma parte de nossa juventude apenas e por consequência, ainda não compreende a sua totalidade, e no faz temer por sua eficácia.
Na questão do sistema corregedor, gostaríamos de saber qual o tamanho e eficácia do trabalho realizado pelo NAI? Gostaríamos de saber se esse sistema está de fato invertendo a curva de crescimento da violência juvenil em Limeira, ou se apenas está sendo uma barreira para postergar a implantação das Unidades da Fundação CASA em nosso município?
Na questão do lazer, compreendemos que não é fácil realizar atividades que atendam a diversidade de gostos e desejos das diferentes juventudes, mas que este árduo trabalho tem que ser realizado e assumido por nossas lideranças para que não deixemos para os jovens como única opção de lazer, ficar em frente ao shopping Center, já que muitos não têm condições financeiras de entrar e consumir, e também ficar nos postos de combustíveis como muitas pessoas na cidade têm reclamado. Devido à complexidade deste tema, parabenizamos esta Casa pela criação da Comissão de Assuntos Relevantes que deverá tratar sobre o entretenimento para a juventude em Limeira, e que contem com nosso apoio na concretização deste trabalho.
Também pode ser um espaço interessante de debate a formação do Conselho Municipal da Juventude como tem sido criado em alguns municípios por parte do Poder Público. Mas antecipadamente, se isto for adiante, pedimos a compreensão de vossas senhorias para a questão de que a maioria da juventude trabalha durante o dia e estuda a noite. Portanto, se esse Conselho somente se reunir em horários comerciais, a juventude organizada dificilmente poderá estar presente e será alijada do processo assim como aconteceu com nossa participação no Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente em 2006. E neste ponto, precisamos fazer uma exigência: Por favor, façam políticas públicas COM a juventude e não PARA a juventude! É imprescindível ouvir todas as juventudes nestes momentos.
De acordo com o que acima expusemos, sabemos que o trabalho com a juventude é grande e que muito ainda tem que ser feito à juventude de nosso município. Para isso, todo o esforço coletivo torna-se condição básica para aumentar a eficácia das ações e que quando trabalhamos a favor da juventude, não estamos realizando despesas, mas investimentos no futuro de nosso município. Assim em 2008, lutamos para colocar um representante nosso nesta Casa, mas que o trabalho para a juventude não pode e nem deve ser apenas dele, mas de todos os senhores e senhoras. Assim, colocamo-nos a disposição naquilo que pudermos ajudar, esperando a colaboração e apoio de vossas senhorias neste trabalho.
Conte conosco, para que juntos possamos viver a nossa utopia que é a construção da Civilização do Amor, onde:
A construção da Civilização do Amor é uma reafirmação dos valores sagrados para a PJ do Brasil, onde dizemos SIM:
Sim à vida
Sim ao amor como vocação humana
Sim à solidariedade
Sim à liberdade
Sim à verdade e ao diálogo
Sim à participação
Sim ao esforço permanente pela paz
Sim ao respeito pelas culturas
Sim ao respeito pela natureza
Sim à integração Latino-americana
E onde também a construção da Civilização do Amor traz um repúdio aos antivalores: onde dizemos NÃO:
Não ao individualismo
Não ao consumismo
Não à absolutização do prazer
Não à intolerância
Não à injustiça
Não à discriminação e à marginalização
Não à corrupção
Não à violência.
Por fim, queremos mais uma vez reafirmar nossos mais sinceros agradecimentos por este espaço onde pudemos expressar nossa opinião nesta Casa Legislativa. Também desejamos que essa nossa participação não seja um mero evento, mas o fortalecimento da atuação de nossa juventude neste espaço público e democrático.
Em nome da juventude organizada na PJ, agradeço pelo espaço e me coloco a inteira disposição de vossas senhorias para explicar qualquer dúvida, que porventura tenha ficado.
Muito Obrigado e Boa Noite a todos e a todas!
Tiago Valentim Georgette
Assessor Leigo Jovem da Pastoral da Juventude da Diocese de Limeira
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